MPT e OIT lançam ferramenta que mapeia os acidentes de trabalho no Brasil
Brasília - O estado de São Paulo ocupa a primeira posição entre as federações com o maior número de notificações de acidentes trabalho entre 2012 e 2016: 963.264. O número é bem acima do segundo colocado, Minas Gerais, com 262.126 notificações, e o do terceiro, Rio de Janeiro, 207.150 (veja tabela abaixo). Os dados constam do Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho, ferramenta disponibilizada à sociedade pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Com foco na promoção do trabalho decente, o Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho (https://observatoriosst.mpt.mp.br) tem grande potencial para subsidiar o desenvolvimento, monitoramento e avaliação de projetos, programas e políticas públicas de prevenção de acidentes e doenças no trabalho, com base em dados e evidências de todo o Brasil, que servem também para informar o combate às irregularidades no meio ambiente do trabalho.
Para o procurador-geral do Trabalho, Ronaldo Fleury, essa nova ferramenta é de fundamental importância para a atuação do MPT de vários órgãos públicos e entidades, que precisam desses dados. “Os números isolados não dizem nada. Mas ao fazermos cruzamentos dos dados produzimos muitas informações e podemos agora identificar os tipos de acidentes de trabalho, a localidade, o setor para fazermos uma atuação preventiva”, destacou ele, que vai apresentar o sistema na 106ª Conferência Internacional da OIT, em junho, em Genebra (Suíça).
O coordenador do Programa de Combate ao Trabalho Forçado da OIT, Antonio Carlos de Mello, ressaltou o trabalho de desenvolvimento do observatório e disse que servirá de modelo para outros países. “Vamos colocar um link da ferramenta no nosso site internacional e também vamos apresentar a outros países esse sistema”. Afirmou ainda que a proposta é continuar a parceria com o MPT no desenvolvimento de outros observatórios.
Desenvolvimento - O Observatório utiliza tecnologia livre e gratuita (open source) e foi criado pela equipe do Smart Lab de Trabalho Decente MPT-OIT. A ferramenta foi concebida seguindo parâmetros científicos da pesquisa “Acidente de Trabalho: da Análise Sócio Técnica à Construção Social de Mudanças”, conduzida pela Faculdade de Saúde Pública da USP, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e em cooperação com o MPT. O projeto nasceu em Campinas, a partir da parceria do procurador Mário Antônio Gomes com a USP. “É importante a gente destacar a produção da ferramenta teve custo zero. O nosso trabalho foi usando a mão de obra do MPT e da OIT com dados públicos”, explicou o procurador do Trabalho Luís Fabiano de Assis, coordenador do projeto pelo MPT.
Achados – O sistema de busca permite fazer diversas pesquisas. É possível fazer o levantamento por setor de atividade econômica em que ocorre a maioria das notificações entre os anos de 2012 e 2016. A ferramenta apontou que nesse período foram: atividades de atendimento hospitalar (8%), comércio varejista (3%), administração pública em geral (2%), construção de edifícios (2%), transporte rodoviário de carga (2%) e atividades de Correio (2%).
No levantamento das Comunicações de Acidente de Trabalho (2012-2016) as 10 partes do corpo mais frequentemente atingidas o dedo ocupa a primeira posição com 619.957 ocorrências, seguida do pé, 200.243, e da mão, 188.728. Entre as lesões mais frequentes, estão corte, laceração, feridas contusas e puncturas (23%), fraturas (19%), contusão e esmagamento (17%) e distensões e torções (10%).
O observatório informa ainda que somados os 10 estados com maior número de afastamentos previdenciários acidentários, chega-se a um montante de R$ 9,9 bilhões, no período entre 2012 e 2016, decorrentes de 1,09 milhão de afastamentos. A soma disso totaliza 202 milhões de dias de trabalho perdidos. São Paulo responde sozinho por 28,4% dos afastamentos.
AFASTAMENTOS POR AUXÍLIO UF (2012-2016) |
||||||||
Pos |
UF |
Afastamentos B91 |
% |
Despesa Previdenciária (R$) |
% |
Dias de Trabalho Perdidos |
% |
|
1 |
SP |
373.175 |
28,4 |
3.477.274.669,36 |
28,8 |
60.246.925 |
23,8 |
|
2 |
MG |
145.977 |
11,1 |
1.059.150.720,70 |
8,76 |
25.035.868 |
9,89 |
|
3 |
RS |
127.941 |
9,74 |
1.081.826.510,22 |
8,95 |
23.173.428 |
9,15 |
|
4 |
SC |
115.483 |
8,79 |
1.133.526.040,80 |
9,37 |
25.964.278 |
10,3 |
|
5 |
PR |
91.094 |
6,93 |
740.377.411,33 |
6,12 |
17.502.363 |
6,91 |
|
6 |
RJ |
76.365 |
5,81 |
926.184.483,97 |
7,66 |
16.643.078 |
6,57 |
|
7 |
BA |
52.318 |
3,98 |
526.833.711,99 |
4,36 |
10.927.715 |
4,32 |
|
8 |
PE |
44.826 |
3,41 |
480.289.875,00 |
3,97 |
10.975.215 |
4,33 |
|
9 |
GO |
35.299 |
2,69 |
264.936.934,22 |
2,19 |
6.073.596 |
2,4 |
|
10 |
CE |
29.521 |
2,25 |
213.876.570,27 |
1,77 |
5.998.440 |
2,37 |
|
Números - Segundo os dados do novo Observatório Digital de Saúde e Segurança do Trabalho MPT-OIT, no período de 2012 a 2016, foram gastos cerca de R$ 20 bilhões para o pagamento de auxílios-doença por acidente de trabalho, aposentadorias por invalidez acidentária, pensões por morte acidentária e auxílios-acidente, estes últimos relacionados a sequelas e redução da capacidade laborativa. Além disso, foram perdidos mais de 250 milhões de dias de trabalho, considerando a soma do total de dias de cada afastamento do tipo auxílio-acidente, nos casos de acidente de trabalho. Apenas com auxílio-doença com acidente de trabalho, foram gastos pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) cerca de R$ 12 bilhões neste período.
COMUNICAÇÕES DE ACIDENTES DE TRABALHO POR UF (2012-2016) |
|||||
Posição |
UF |
Notificações |
% |
População em milhões |
% |
1 |
São Paulo |
963.264 |
37,4 |
44,8 |
21,7 |
2 |
Minas Gerais |
262.126 |
10,2 |
21,0 |
10,2 |
3 |
Rio de Janeiro |
207.150 |
8,0 |
16,9 |
8,1 |
4 |
Rio Grande do Sul |
202.955 |
7,9 |
11,2 |
5,5 |
5 |
Paraná |
196.456 |
7,6 |
11,2 |
5,5 |
6 |
Santa Catarina |
132.226 |
5,1 |
6,9 |
3,4 |
7 |
Goiás |
69.342 |
2,7 |
6,6 |
3,2 |
8 |
Bahia |
61.746 |
2,4 |
15,2 |
7,4 |
9 |
Pernambuco |
60.742 |
2,3 |
9,4 |
4,6 |
10 |
Espírito Santo |
59.517 |
2,3 |
3,9 |
1,9 |