Crianças em situação de vulnerabilidade social de Campinas (SP) aprendem cidadania em projeto viabilizado por acordo trabalhista

Projeto “Baú das Artes” tem potencial para atingir mais de 500 crianças atendidas por 5 entidades da cidade; iniciativa foi custeada com verba de acordo judicial

Campinas – Um acordo trabalhista firmado entre o Ministério Público do Trabalho (MPT) e a Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento S/A – SANASA teve como resultado a criação do projeto “Baú das Artes”, uma iniciativa social que tem como objetivo o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e famílias em situação de vulnerabilidade ou risco social a partir da aprendizagem lúdica sobre temas ligados à cidadania. O trabalho foi desenvolvido junto a cinco entidades filantrópicas de Campinas (SP), e teve sua implementação no período entre fevereiro e outubro de 2019, com programação continuada, em vista do conhecimento aplicado.

As instituições beneficiadas foram a Casa de Maria de Nazaré, Associação de Assistência Social São João Vianney, Serviço Social Nova Jerusalém (Espaço Crescer e Vencer), Núcleo de Ação Social - NAS e Centro Social Bertoni, todas especializadas no atendimento a pessoas menores de 18 anos em situação de vulnerabilidade social, bem como suas famílias. Ao todo 181 crianças se envolveram diretamente nas atividades de acompanhamento pedagógico, mas o “Baú das Artes” tem potencial para impactar 542 crianças, caso haja a multiplicação da metodologia entre todos os educadores das cinco entidades, de modo a atingir todos os beneficiados pelas instituições participantes. No dia de encerramento, o projeto atraiu 135 familiares e 80 crianças, das cinco entidades. A iniciativa capacitou 22 educadores, que agora estão aptos a multiplicar a ação. A verba do acordo também propiciou a doação de 1.500 livros às entidades participantes.

A coordenadora do Espaço Crescer e Vencer, Carolina Bites Corrêa Santos, ressaltou a importância do projeto para a instituição. “O Baú foi bem importante para a nossa instituição porque podemos abordar temas que já estavam sendo trabalhados de uma forma lúdica e, assim, ajudar nossas crianças e adolescentes a se desenvolverem”, explicou.

Para Ana Raquel de Campos, educadora-social da Casa Maria de Nazaré, os encontros proporcionaram um aprendizado que auxiliará os educadores no decorrer dos seus trabalhos. “A cada encontro uma aprendizagem, uma bagagem muito rica em conteúdo e prática. Um agente transformador e gerador de opiniões. Uma construção coletiva. A cada etapa afinamos os interesses em comum, o que nos ajuda a desenvolver melhor o nosso trabalho”, explicou.

Baú das Artes – Cada entidade recebeu uma caixa “Baú das Artes”, contendo um conjunto de materiais do universo das artes, dos jogos e das brincadeiras que favorecem práticas de aprendizagem lúdicas, com temas que abrangem meio ambiente, trabalho e consumo, ética, saúde, pluralidade cultural e sexualidade (organizados a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs), além de kits de livros e material de almoxarifado.

O projeto seguiu 6 etapas, em toda sua extensão: apresentação do projeto, que teve por objetivo conhecer as entidades, apresentar as etapas e alinhar os passos de execução; entrega do acervo do Baú das Artes nas instituições, contendo umconjunto de materiais do universo das artes, dos jogos e das brincadeiras que favorecem práticas de aprendizagem lúdicas; eventos de apresentação, em encontros que despertaram o interesse do público e sensibilizaram educadores, familiares e cuidadores sobre a relevância da proposta; curso de formação de educadores das instituições, que desenvolveu as habilidades e o conhecimento ludo-educacional dos educadores; acompanhamento pedagógico, um apoio prático à implementação do projeto, e uma reunião de encerramento, que apresentou os trabalhos realizados ao longo da duração do projeto. O conteúdo foi aplicado pela empresa Programa Evoluir, vencedora do processo licitatório realizado pela SANASA.

“Eu adorei tudo do Baú, principalmente os jogos e as brincadeiras de pular elástico e peteca. Os jogos também são legais. O que foi mais legal foi o dia das fantasias. Gostei de tanta coisa; também da brincadeira do gelo sobre as crianças da Antártida e da construção de brinquedos que mostramos para todo mundo. Eu queria ir todo dia na sala do Baú”, contou com euforia uma das crianças atendidas pelo Núcleo de Ação Social - NAS, localizada no Distrito de Barão Geraldo.

Com o objetivo de aproximar educadores e familiares das crianças, uma das atividades consistiu na formação de rodas de conversa com a temática “A importância do Brincar para o desenvolvimento infantil”. Os encontros serviram para discutir sobre os eixos trabalhados dentro do projeto.

“Ao longo desses seis meses realizando encontros semanais com as crianças e educadores sociais das instituições, e orientada por um material pedagógico excelente que aborda os temas transversais, fui aos poucos ajustando uma lente de ver possibilidades desses espaços de tamanha importância para as crianças e para a comunidade em que estão inseridas”, concluiu Mariana Menezes, educadora de campo do projeto.

Evento de encerramento – O encerramento foi a última etapa do “Baú das Artes” e reuniu crianças, educadores e coordenadores das cinco entidades participantes do projeto. Na oportunidade houve uma programação voltada à celebração e ao compartilhamento das atividades desenvolvidas pelas crianças, em cada uma das instituições.

O Núcleo de Ação Social - NAS produziu um “talk show”, tendo como apresentadora uma aluna que realizou entrevistas especiais com os participantes. A Associação Social São João Vianney montou um vídeo documental sobre a as atividades desenvolvidas no Baú com depoimentos de crianças e familiares, seguido de uma apresentação teatral com mensagem de conscientização ambiental.

Já o Centro Social Bertoni fez uma apresentação artística musical da música “Aquarela”, do compositor Toquinho, ao som de um violão, cantada e encenada pelas crianças a partir de objetos cenográficos e desenhos. O Serviço Social Nova Jerusalém (Espaço Crescer e Vencer) realizou uma apresentação musical e dança com reinterpretação do Hino Nacional do Brasil e da música “New York”, de Frank Sinatra, enquanto a Casa Maria de Nazaré exibiu uma performance inspirada em dança indígena, da Tribo Kayapó Zikrin.

Todas as etapas do projeto foram acompanhadas e fiscalizadas pelo MPT, conforme item do acordo que impõe a obrigação de projeção e implementação do projeto. “Para o Ministério Público do Trabalho, essa iniciativa é uma forma de reparar o dano social causado pela irregularidade trabalhista praticada pela empresa pública, notadamente relacionada à jornada excessiva de funcionários. A destinação de recursos de acordos judiciais e TACs para projetos sociais é uma forma de dar oportunidades para uma parcela da população menos assistida, bem como de contribuir para a estruturação de serviços públicos e devolver à população aquilo que é seu de direito, algo que será, infelizmente, inviabilizado pela Medida Provisória 905, que limita a destinação dessas verbas a um programa do Governo Federal”, explica a procuradora Carolina De Prá Camporez Buarque.